Por Wellington Romanhol, advogado e consultor da Romanhol Advogados, doutorando em direito, mestre em gestão, graduado em administração de empresas, ciências contábeis e direito.
Para se combater a crise na empresa, antes de se escolher qual solução usar, o mais importante é procurar ajuda profissional e realizar um diagnóstico com a ferramenta adequada para se descobrir a verdadeira causa e não só os sintomas da crise. Neste artigo se apresenta o Z-score do Altman como uma ferramenta aderente para realização de um diagnóstico confiável, e a partir de seu resultado o líder da empresa poderá tomar a melhor decisão escolhendo a melhor solução dentre as quais se relaciona algumas: Renegociação direta, renegociação assistida, captação de empréstimos, venda de ativos, recuperação extrajudicial e recuperação judicial.
O vírus Covid-19 comprovou, definitivamente, que estamos vivendo num mundo totalmente globalizado, no qual os problemas ocorridos em outro país não dizem respeito somente aos habitantes daquela região. Situações relevantes que acontecem em qualquer parte do mundo podem ecoar em mais ou menos tempo em todo o globo.
No intuito de auxiliar líderes na tomada de decisões estratégicas, pontuaremos as principais soluções que estão à disposição das empresas no combate aos sintomas e causas que as fazem sangrar nesse momento de crise econômica mundial.
Nesse sentido, é pertinente lembrar que a eficácia do tratamento a ser adotado depende essencialmente do diagnóstico preciso e certeiro em relação à causa real da crise pela qual a empresa está passando, pois, muitas vezes a crise atual apenas amplifica os problemas e fragilidades que a empresa já possuía, os quais passavam desapercebidos pela direção.
Com objetivo de auxiliar o diagnóstico da crise, bem como o tratamento, apresentamos a seguir uma ferramenta e soluções atualmente disponíveis aos líderes empresariais.
Z-Score Altman
Edward Altman, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, desenvolveu uma ferramenta de diagnóstico chamada por ele de Z-score que aufere a saúde econômica-financeira de uma empresa e projeta, num horizonte de 5 anos, a possibilidade de eventual crise na empresa, possibilitando, assim, a tomada de decisão preventiva, antes da instalação da crise, o que faz toda a diferença no processo de soerguimento.
Renegociação Direta
Dentro da renegociação direta elencamos algumas providências que a liderança pode adotar sem o auxílio de profissionais externos no combate à crise, são elas: redução de custos, implementação de férias coletivas, pedidos de prorrogação de títulos, renegociação com fornecedores, revisão de contratos etc.
Todavia, como falamos a pouco, mesmo essas medidas devem ser tomadas com a devida cautela, pois, a forma com que cada um está utilizando essas alternativas irá validar a reputação da empresa e de seus líderes, especialmente no momento pós-crise.
Renegociação Assistida
Algumas alternativas mais complexas já devem ser tomadas com o auxílio de profissionais da área, pois podem trazer algum efeito colateral indesejado. Entre elas estão as demissões em massa, licença não remunerada. A primeira medida citada neste ponto tem que ser pensada levando em conta os custos e as dificuldades de recontratação posterior; a segunda tem que haver uma séria ponderação em relação às condições estabelecidas pelo Governo Federal, dentre as quais tem-se a estabilidade do funcionário por 2 meses (sujeito à alteração legislativa).
Desta forma, toda renegociação, seja com funcionários, parceiros ou fornecedores, que seja mais complexa e exija uma parcela de esforço maior do que o normal por parte de todos (Stakeholders), deve ser feita com auxílio de profissionais especializados, a fim de reduzir os impactos negativos, cujas consequências podem comprometer a vida da empresa.
Captação de empréstimos
A captação de empréstimos em momentos de crise, tem se apresentado como uma das piores soluções quando não se conhece de fato a causa. Em geral, o alívio de caixa faz com que medidas necessárias sejam postergadas, piorando, ainda mais, a crise já instalada.
Por exemplo, se a operação já apresentava resultado negativo e os ativos da empresa já estão sendo consumidos e a crise só agravou a escassez de caixa, o dinheiro novo somente fará com que as decisões de reestruturação sejam adiadas, consumindo, assim, maior parcela do caixa, tão precioso para empresas com dificuldades.
Antes de captar o recurso novo é necessário conhecer as causas da crise e saber se de fato estas já foram corrigidas antes aportar mais recursos.
Venda de ativos
A venda de ativos e a consequente injeção do recurso é bastante indicada por um lado e desaconselhada por outro. Se os ativos que estão sendo vendidos foram adquiridos com recursos da empresa em momento inoportuno e, justamente a falta desse recurso gerou a crise na empresa, então, é uma boa hora para se desmobilizar e recompor o caixa, não obstante os eventuais prejuízos decorrentes da venda imediata.
Agora se os ativos foram adquiridos em tempos de bonança e, agora a liderança está fazendo a opção de sacrificar o ativo para gerar caixa, entramos na mesma discussão da captação de recursos. É imperativo ter certeza que o problema que está consumindo o caixa seja resolvido antes.
Algo que é muito comum é a injeção de dinheiro novo para aumentar a venda da empresa, mas se as vendas estão ocorrendo com prejuízo, o aumento das mesmas só fará agravar a crise, consumindo todo o dinheiro novo injetado com a venda dos ativos.
Recuperação extrajudicial
A recuperação extrajudicial é uma medida de solução para a crise na empresa que é pouco utilizada no Brasil, porém, está prevista na lei 11.101/2005. Com essa solução legal você pode elaborar um plano de recuperação que contenha as ações que serão implementadas para superar a crise e a forma como a empresa pretende pagar os credores e, a partir desse documento, buscar negocialmente a adesão dos credores.
Em linha gerais, com a adesão por escrito de mais de 60% (3/5) dos credores, o juiz poderá homologar o plano, que valerá para todos os credores da empresa.
Recuperação judicial
Esta sim é uma das últimas soluções que podem ser utilizadas pela empresa, pois, após sua administração só restaram duas alternativas para a empresa: a recuperação ou a falência.
Quando bem utilizada e, no momento certo, a recuperação judicial é uma ótima solução para a empresa combalida ou para as que necessitam de um choque de gestão mais sério para mudar os rumos do negócio.
O fato é que essa solução não pode ser realizada sozinha, sem o auxílio de um profissional compete e capacitado para tanto. Juntamente com ele é necessário se aplicar uma grande mudança de cultura e paradigmas na empresa. Se os erros que levaram ao ponto da necessidade de pedir recuperação judicial persistirem após o pedido, a empresa só prorrogará o inevitável, a falência.
Todavia, quando bem administrado, esta solução pode trazer benefícios significativos, que podem salvar a empresa da quebra, são eles: i) congelamento da dívida, sem incidência de juros após pedido; ii) carência para o início dos pagamentos; iii) deságio no valor do endividamento; iv) maior prazo para pagamento; v) abatimento no valor das dívidas da empresa.
Lembrando sempre que toda solução drástica possui seus efeitos colaterais, os quais devem ser ponderados antecipadamente, por isso a necessidade de auxílio de profissionais experientes e comprometidos com o resultado de longo prazo.
Por fim, conclui-se que a melhor solução a ser utilizada para combater a crise da empresa irá depender de um diagnóstico bem elaborado e com a ferramenta adequada para se conhecer, de fato, as causas reais da crise e assim se combater a mesma e não apenas os sintomas.